Nos últimos anos, a energia solar tem se consolidado como uma das principais apostas para a transição energética global, e o Brasil se destaca nesse cenário. Em 2024, a capacidade instalada de geração solar cresceu 88% no mundo, ultrapassando a hidrelétrica e a nuclear e se tornando a quarta maior fonte de energia. No Brasil, essa expansão é impulsionada pela digitalização, automação e redução de custos tecnológicos, tornando a energia fotovoltaica acessível a um número cada vez maior de consumidores.
A revolução solar no país é impulsionada pelo crescimento das chamadas energytechs, startups especializadas no setor energético, que hoje somam mais de 250 no Brasil. O país lidera a atração desse tipo de empresa na América Latina, concentrando 80% dos US$ 800 milhões investidos na região desde o início da década. Essa injeção de capital tem sido fundamental para o avanço de tecnologias que otimizam o consumo e a gestão energética, permitindo a integração com diferentes fontes renováveis e ampliando a previsibilidade da geração elétrica.
Além disso, a fonte solar atingiu um marco histórico no Brasil, alcançando 53 GW de potência instalada operacional, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Essa potência resulta da soma da geração própria via pequenos e médios sistemas (35,5 GW) e das grandes usinas solares (17,5 GW) espalhadas pelo país. A participação da energia solar na matriz elétrica brasileira já representa 21,6% da capacidade instalada nacional, tornando-se a segunda maior fonte de geração no país.
Desde 2012, o setor fotovoltaico trouxe mais de R$ 241 bilhões em novos investimentos, gerou 1,5 milhão de empregos verdes e contribuiu com R$ 74,7 bilhões em arrecadação de impostos. Além disso, a expansão da energia solar evitou a emissão de cerca de 64,2 milhões de toneladas de CO₂, reforçando seu papel fundamental na redução da pegada de carbono e no combate às mudanças climáticas.
Digitalização e descentralização do setor elétrico
O avanço da digitalização tem sido um divisor de águas na expansão da energia solar. Hoje, softwares de gestão permitem que consumidores otimizem seu consumo, façam previsões de demanda com mais precisão e integrem diferentes fontes energéticas de forma eficiente. Essa inteligência digital facilita a descentralização da geração de energia, possibilitando modelos como a geração distribuída e as comunidades energéticas, nas quais consumidores podem compartilhar eletricidade entre si, reduzindo a dependência das grandes distribuidoras.
Essa nova dinâmica fortalece o conceito de autonomia energética, no qual empresas e residências deixam de ser apenas consumidores passivos e passam a atuar como produtores de eletricidade. Com isso, o setor se torna mais democrático e sustentável, promovendo uma maior participação dos consumidores na matriz energética.
Um exemplo concreto de como a energia solar pode impulsionar a sustentabilidade urbana é o Solário Carioca, um projeto inovador que transforma um aterro sanitário desativado no Rio de Janeiro em uma usina de energia solar. A iniciativa, resultado de uma parceria público-privada, tem como objetivo utilizar a área antes degradada para a geração de eletricidade limpa e renovável, promovendo benefícios ambientais e sociais. Com capacidade para abastecer milhares de residências, o projeto demonstra o potencial da energia solar não apenas como fonte de eletricidade sustentável, mas também como ferramenta para revitalização de espaços urbanos e inclusão energética.
No entanto, desafios persistem. Segundo a ABSOLAR, o ano de 2024 foi marcado por dificuldades para o setor, incluindo negativas das distribuidoras para a conexão de novos sistemas, sob a alegação de inversão de fluxo de potência na geração distribuída. Já na geração centralizada, cortes impostos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) impactaram significativamente as receitas dos geradores, dificultando o cumprimento de contratos e comprometendo investimentos em novos empreendimentos solares.
Leia mais sobre o projeto Solário Carioca
Redução de custos e acesso facilitado
O custo da energia solar tem caído significativamente nos últimos anos, tornando-a competitiva não apenas para grandes empresas, mas também para pequenos negócios e consumidores residenciais. Esse barateamento se deve a avanços como a evolução dos painéis fotovoltaicos e a melhoria na eficiência das baterias de armazenamento.
Além disso, o financiamento digital tem sido um grande aliado da popularização da energia solar. Plataformas online permitem que consumidores adquiram sistemas fotovoltaicos de forma simplificada e com condições mais acessíveis. Isso acelera a adoção da fonte renovável e contribui para a transição energética do país em larga escala.
Inovações tecnológicas e perspectivas para o futuro
O futuro da energia solar no Brasil está diretamente ligado à inovação. Avanços em armazenamento energético, inteligência artificial aplicada à previsão de consumo e novos modelos de financiamento serão determinantes para a continuidade do crescimento do setor. A ampliação do armazenamento permitirá que a energia solar se torne ainda mais confiável, garantindo fornecimento mesmo em períodos sem sol.
A inteligência artificial, por sua vez, ajudará a prever padrões de consumo com maior precisão, otimizando a distribuição da energia gerada. Já modelos financeiros mais flexíveis garantirão que a energia fotovoltaica continue sendo uma opção acessível para um número ainda maior de consumidores.
Mais do que uma alternativa limpa, a energia solar se consolida como um dos pilares da matriz elétrica do futuro. A evolução contínua da tecnologia e dos modelos de negócio está revolucionando a forma como a energia é gerada, distribuída e consumida no Brasil. O sol sempre esteve presente; agora, ele se torna a base de um novo modelo energético mais sustentável, eficiente e acessível.
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