Nos últimos dias, o setor elétrico brasileiro voltou ao centro das discussões estratégicas do mercado de energia. Três fatores principais chamaram atenção: a revisão para baixo da carga de energia pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a contradição entre a abundância de energia solar e as tarifas elevadas para o consumidor, e a nova Medida Provisória nº 1.300, que ameaça inviabilizar parte dos projetos de geração distribuída no país.
Esses elementos, quando analisados em conjunto, revelam não apenas os riscos e desafios imediatos do setor, mas também oportunidades para empresas que souberem se posicionar com clareza, inovação e compromisso ESG.
A queda da carga elétrica e seus impactos
O ONS divulgou que a carga de energia em setembro deve cair 2,3% em relação ao ano anterior, revisando sua projeção inicial de -2,0%. Esse movimento ocorre em um contexto de maior eficiência energética, mudanças no perfil de consumo e desaceleração econômica.
Para os geradores e comercializadores de energia, a queda da carga sinaliza a necessidade de maior flexibilidade na gestão de portfólios, além de abrir espaço para a intensificação de estratégias de exportação e armazenamento. Já para consumidores livres e investidores, é um alerta sobre como o mercado pode se tornar mais volátil diante de oscilações inesperadas.
O paradoxo da energia solar e tarifas elevadas
Paralelamente, cresce a discussão sobre o chamado “paradoxo da energia solar”. Apesar de o Brasil ser hoje um dos líderes globais na expansão da geração fotovoltaica, especialmente distribuída, os consumidores continuam enfrentando contas de luz elevadas — muitas vezes impactadas por bandeiras tarifárias como a vermelha.
Esse descompasso tem explicações técnicas e regulatórias: custos de rede, encargos setoriais, subsídios cruzados e a própria metodologia de cálculo das bandeiras tarifárias. A abundância de energia renovável não se traduz automaticamente em redução de tarifas, e isso reforça a importância de um debate amplo sobre a modernização do modelo tarifário brasileiro.
MP 1.300: insegurança regulatória em pauta
A Medida Provisória nº 1.300 trouxe grande preocupação para o mercado. As mudanças propostas no marco da geração distribuída podem reduzir drasticamente a atratividade econômica de novos projetos, com estimativas de inviabilização de até 80% das iniciativas em andamento.
A insegurança regulatória é um dos principais entraves para o investimento em energia renovável. Mudanças abruptas reduzem previsibilidade, aumentam riscos e podem afastar capital estrangeiro em um momento em que o Brasil precisa se consolidar como destino estratégico para a transição energética global.
Empresas que se fortalecem na turbulência
Em meio a esse cenário, algumas empresas têm se destacado ao reforçar metas claras de expansão em energia limpa. É o caso da Kroma Energia, que ampliou investimentos e se manteve entre as 1.000 maiores companhias do país segundo o ranking Valor 1000. Esse tipo de posicionamento evidencia que, mesmo diante de incertezas, há espaço para crescimento sustentável e visão de longo prazo.
A agenda estratégica da energia limpa
Para os próximos meses, o setor deve continuar convivendo com três eixos centrais:
- Demanda instável — exigindo maior inteligência de mercado.
- Revisão regulatória — trazendo riscos, mas também espaço para diálogo e construção de consensos.
- Expansão das renováveis — que avança em ritmo acelerado, mas precisa de ajustes de mercado para beneficiar consumidores de forma efetiva.
A transição energética no Brasil não é apenas uma pauta ambiental ou regulatória. É um movimento empresarial estratégico, que exige clareza, adaptação e visão global.
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