Novo relatório “Delivering on the UAE Consensus”, publicado em outubro de 2025 pela IRENA sob a presidência da COP30 no Brasil, mostra recorde de 582 GW de novas adições renováveis em 2024, mas progresso insuficiente na eficiência energética global.
Avanço expressivo nas energias renováveis em 2024
O relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA)
revela que 2024 foi o maior ano da história para as energias renováveis, com 582 GW de nova capacidade instalada — um salto de 15% em relação a 2023.
Desse total, 452 GW vieram da energia solar fotovoltaica, responsável por mais de três quartos das adições globais. O segmento cresceu 27% em relação ao ano anterior, impulsionado pela redução de custos, políticas de incentivo e maturidade das cadeias de suprimentos.
A energia eólica somou 114 GW (105 GW onshore e 9 GW offshore), enquanto a hidrelétrica adicionou 9,3 GW, chegando a 1.277 GW instalados globalmente. As fontes bioenergéticas e geotérmicas cresceram modestamente, com cerca de 6 GW adicionais.
Em termos regionais, o crescimento continua concentrado: Ásia, Europa e América do Norte responderam por 85% da capacidade instalada mundial. A Ásia liderou, com 413 GW adicionados — 71% do total global.
A lacuna rumo a 2030: ritmo atual ainda é insuficiente
Apesar do desempenho recorde, a IRENA alerta que o ritmo atual não é suficiente para atingir o objetivo de triplicar a capacidade renovável até 2030, uma meta firmada no UAE Consensus da COP28 de Dubai.
Caso a taxa de crescimento observada em 2024 se mantenha, o mundo alcançaria 10,3 TW de capacidade renovável até 2030, 0,9 TW abaixo do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Para fechar essa lacuna, será preciso instalar 1.122 GW por ano até o fim da década — quase o dobro do ritmo atual.
O relatório projeta que, se bem-sucedida, a expansão fará com que as fontes solar e eólica respondam por 61% da capacidade global de geração elétrica até 2030, ultrapassando os combustíveis fósseis pela primeira vez na história.
Eficiência energética: o elo mais fraco da transição
Enquanto as renováveis avançam, a eficiência energética segue em ritmo preocupantemente lento.
Entre 2023 e 2024, a melhoria na intensidade energética global foi de apenas 1%, muito abaixo dos 4% necessários anualmente para cumprir a meta de dobrar a eficiência até 2030.
A IRENA alerta que, para compensar o atraso, o mundo agora precisará alcançar 5% de melhoria anual entre 2025 e 2030 — um desafio sem precedentes.
O documento destaca que o consumo de energia continua a crescer cerca de 2% ao ano, enquanto a economia mundial avança a 3%, o que reduz a intensidade energética de forma marginal. Entre as soluções recomendadas estão políticas transversais que envolvam governos, setor privado, instituições financeiras e centros de pesquisa.
Um dos destaques é a criação da Global Energy Efficiency Alliance (GEEA) durante a COP29, em 2024, sob liderança dos Emirados Árabes Unidos, para acelerar investimentos e troca tecnológica em eficiência energética.

Transporte e eletrificação: o desafio da demanda
O relatório também aponta avanços na eletrificação do transporte, embora ainda insuficientes.
O número de veículos elétricos (BEVs e PHEVs) chegou a 57 milhões em 2024, devendo atingir 360 milhões até 2030 para alinhar-se ao cenário de 1,5 °C.
Isso exigirá crescimento seis vezes maior do que o atual e a expansão acelerada de infraestrutura de recarga — hoje com 5,2 milhões de pontos públicos.
Na construção civil, as taxas de renovação energética de edifícios permanecem em apenas 1% ao ano, um terço do necessário para reduzir emissões do setor.
Recomendações para governos e investidores
O relatório dedica uma seção inteira a ações urgentes para formuladores de políticas públicas, organizadas em cinco eixos principais:
- Política e regulação: incluir metas mensuráveis nos NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) alinhadas ao UAE Consensus, criar mecanismos de precificação de carbono e garantir previsibilidade por meio de contratos de longo prazo (CfDs, PPAs).
- Infraestrutura e sistemas: digitalizar redes elétricas, acelerar licenciamento de projetos, investir em flexibilidade e armazenamento.
- Financiamento: ampliar o acesso a crédito e garantias públicas para reduzir o risco de projetos em países emergentes.
- Cadeias produtivas: promover manufatura local, parcerias público-privadas e comércio justo de minerais críticos.
- Capacitação e inclusão: investir em formação técnica, programas de transição justa e maior participação de mulheres em setores STEM.
Além disso, a IRENA enfatiza a necessidade de coerência entre políticas industriais e ambientais, integrando incentivos fiscais (créditos tributários, subsídios, garantias de empréstimos) e infraestrutura adequada para atrair investimentos sustentáveis.
Financiamento e cooperação internacional
Segundo a agência, a realização das metas até 2030 exigirá ao menos USD 5 trilhões em novos investimentos. Países em desenvolvimento, especialmente na África e América Latina, devem receber prioridade em linhas de crédito e financiamento climático.
O relatório destaca o papel de mecanismos multilaterais e do setor privado na mobilização de recursos, e defende que a COP30, a ser sediada no Brasil (GRA), represente um ponto de virada na implementação prática do UAE Consensus.
Um chamado à ação: a COP30 como marco decisivo
Com menos de cinco anos até 2030, a IRENA conclui que o mundo ainda está fora do ritmo ideal, mas não sem esperança.
O relatório afirma que 91% das novas instalações renováveis em 2024 já produzem eletricidade mais barata que fontes fósseis, mostrando que a transição energética é não apenas ambientalmente necessária, mas economicamente vantajosa.
Para o Brasil, que sediará a COP30 em Belém, o desafio é liderar com exemplo — consolidando políticas de integração regional em energia limpa, bioenergia, hidrogênio verde e inovação tecnológica.
“O sucesso do UAE Consensus dependerá da velocidade e da escala das ações implementadas antes de 2030. Cada ano conta”, destaca a IRENA no relatório.

Comment