A Pré-COP30 realizada em Brasília em 13 e 14 de outubro de 2025 reuniu 500 negociadores de 50 países para alinhar posições sobre financiamento climático, transição energética e adaptação antes da conferência em Belém.
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) será sediada em Belém de 10 a 21 de novembro. Como etapa preparatória, Brasília recebeu a Pré-COP30, que contou com a participação de ministros, delegados e representantes de sociedade civil para debater temas essenciais à governança climática global.
A Pré-COP30 teve como metas fundamentais facilitar o alinhamento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e avançar na definição de mecanismos de financiamento climático. O evento também priorizou discussões sobre modalidades de adaptação e mitigação em países em desenvolvimento, além de fortalecer a cooperação internacional em tecnologia limpa.
Principais Temas Abordados
Financiamento Climático e Acesso a Recursos
Um dos focos centrais foi a mobilização de recursos para o Fundo Verde do Clima e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Países em desenvolvimento reforçaram a necessidade de desembolsos mais rápidos e previsíveis, enquanto nações desenvolvidas reafirmaram compromissos de desembolso de US$ 100 bilhões anuais.
Transição Energética Justa e Inclusiva
O conceito de transição energética que minimize impactos sociais foi amplamente debatido. Foram apresentadas propostas concretas de programas de capacitação para trabalhadores de indústrias fósseis, incentivos a projetos de geração distribuída em comunidades vulneráveis e linhas de crédito para modernização de infraestruturas em países emergentes.
Adaptação e Resiliência Climática
Ministros e especialistas compartilharam estudos de casos sobre sistemas de alerta precoce para eventos extremos, agricultura resiliente à seca e inundações, além de planos de urbanização adaptados ao aumento do nível do mar. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentou dados sobre vulnerabilidades do setor elétrico brasileiro.
Biodiversidade e Justiça Climática
Foi enfatizada a interconexão entre clima e biodiversidade, destacando pagamentos por serviços ambientais em biomas críticos, proteção de territórios indígenas como estratégia de conservação e mecanismos de compensação por perda de habitats.
Até 10 de outubro, apenas 62 dos 196 países signatários haviam submetido suas NDCs revisadas. Grandes emissores, como China e Índia, ainda pendiam suas metas de redução de emissões, gerando receios de lacunas no equilíbrio entre ambição e realidade. A Pré-COP30 atuou na mediação desses impasses, buscando maior transparência e clareza nos compromissos nacionais.
Impacto para o Setor de Energia Limpa
A articulação em Brasília reforça o protagonismo brasileiro em energia limpa, especialmente em solar e eólica, cujas participações na matriz seguem em ascensão. Segundo dados da ANEEL, a consolidação de metas ambiciosas estimula investimentos em projetos de biogás e biometano em áreas rurais, energias hidrelétricas de baixo impacto e pesquisa em hidrogênio verde.
O encontro foi crucial para discussões sobre a implementação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, previsto para operar a partir de 2030. A estrutura criará oportunidades concretas para empresas que desenvolvem projetos de baixo carbono.
O Brasil apresentou durante a reunião proposta de revisão do marco regulatório de transmissão, buscando acelerar a integração de novos parques renováveis. A proposta está em consulta pública no Ministério de Minas e Energia e visa reduzir prazos de licenciamento ambiental, simplificar processos de conexão ao sistema e estabelecer tarifas de rede adequadas ao crescimento distribuído.
A Pré-COP30 também serviu para apresentar avanços da Política Nacional de Transição Energética, que prevê atrair R$ 2 trilhões em investimentos até 2034. A política estabelece diretrizes para descarbonização do setor energético e criação de empregos verdes.
Após o encontro em Brasília, os negociadores seguirão a trabalhos técnicos e bilaterais até o início da COP30 em Belém. O cronograma inclui sessões de negociação de tecnologia e inovação, reuniões temáticas sobre mercado de carbono e fóruns de diálogo público-privado para alinhar estratégias de financiamento.
Impactos Econômicos e Setoriais
Setor Energético Nacional
O alinhamento preparatório da Pré-COP30 beneficia diretamente o setor energético brasileiro, que já conta com 88% de energia elétrica proveniente de fontes renováveis. A perspectiva de novos acordos de cooperação tecnológica pode acelerar investimentos em infraestrutura de transmissão e armazenamento energético.
Mercado de Investimentos
Fundos de investimento internacionais manifestaram interesse crescente em projetos brasileiros de energia limpa. A Finep, Petrobras e BNDES lançaram fundo específico para transição energética, totalizando R$ 5 bilhões em recursos disponíveis.
A Pré-COP30 em Brasília representou um marco estratégico na preparação para a conferência climática mais importante da década. O evento consolidou o Brasil como protagonista na governança climática global e criou um ambiente propício para avanços efetivos na transição energética, financiamento climático e adaptação.
Para o setor de energia limpa brasileiro, a articulação prévia em Brasília significa maior segurança regulatória, acesso facilitado a recursos internacionais e fortalecimento da agenda de descarbonização corporativa. A COP30 em Belém promete ser um divisor de águas para a aceleração da transição energética global, com o Brasil assumindo papel de liderança nessa transformação estrutural.
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