92% do biogás produzido no Brasil poderia ser originado da agropecuária, mas a falta de incentivos e infraestrutura adequada ainda são barreiras para o avanço do setor, aponta a Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN). Apesar do imenso potencial do país para a produção desse combustível renovável, o setor enfrenta desafios que limitam sua expansão e impacto na matriz energética nacional.
O Brasil possui condições ideais para se tornar um líder global na produção de biogás, com uma agropecuária robusta e um grande volume de resíduos orgânicos disponíveis para conversão energética. Estudos indicam que a geração anual poderia chegar a 82,5 bilhões de metros cúbicos, aproveitando subprodutos da suinocultura, bovinocultura, avicultura, além de resíduos agrícolas como o bagaço de cana-de-açúcar. No entanto, atualmente, menos de 1,5% desse potencial é efetivamente explorado.
O biogás apresenta uma alternativa energética sustentável, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. A captura e o aproveitamento do biogás minimizam as emissões de metano, um gás com potencial de aquecimento global 25 vezes superior ao CO₂. Além disso, a utilização desse recurso pode gerar economia para produtores rurais, possibilitando autossuficiência energética e até mesmo a comercialização do excedente.
Empresas como a Eva Energia têm demonstrado como a transformação de resíduos em energia renovável pode ser viável e lucrativa. Com operações voltadas à conversão de resíduos agropecuários e urbanos em eletricidade, a empresa exemplifica como o setor privado pode impulsionar a expansão do biogás no Brasil.
Apesar dos benefícios ambientais e econômicos, a cadeia produtiva do biogás ainda enfrenta obstáculos estruturais e regulatórios. A falta de incentivos governamentais, dificuldades no acesso a financiamento e a ausência de infraestrutura adequada para a coleta e o processamento dos resíduos são fatores que retardam o crescimento do setor. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial técnico para produção de biogás no Brasil pode ultrapassar 97 bilhões de Nm³ anuais até 2031, mas sem políticas públicas direcionadas, essa estimativa pode não se concretizar.
A viabilização de projetos de biogás requer investimentos significativos em tecnologia, além de integração com outras formas de energia renovável, como a biomassa e o biometano. Atualmente, a fragmentação das iniciativas e a falta de um arcabouço regulatório claro dificultam a expansão de novas plantas de produção.
Mesmo diante desses desafios, algumas iniciativas já consolidaram seu espaço no setor de biogás no Brasil. A Eva Energia, por exemplo, iniciou suas operações em 2019 com a inauguração da maior usina de biogás do Brasil proveniente da suinocultura, localizada no Mato Grosso. Além disso, em 2022, a empresa expandiu suas atividades para a geração de energia elétrica a partir de aterros sanitários, inaugurando usinas de biogás nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Atualmente, as usinas da Eva Energia somam cerca de 20MW de capacidade instalada, fornecendo energia para concessionárias locais e contribuindo para a transição energética de diversas empresas. Essa experiência demonstra como o aproveitamento do biogás pode ser escalável e eficiente, desde que haja um ambiente regulatório favorável e investimentos adequados.
O biogás representa uma oportunidade estratégica para o Brasil reduzir sua pegada de carbono e fortalecer sua segurança energética. No entanto, para que essa solução seja amplamente adotada, é necessário superar barreiras financeiras, regulatórias e de infraestrutura. Empresas como a Eva Energia mostram que o setor privado pode liderar essa transformação, mas a expansão do biogás só será plenamente viável com o apoio de políticas públicas eficazes e investimentos direcionados.
O potencial está claro: com planejamento e incentivo, o biogás pode se tornar um dos pilares da transição energética no Brasil, trazendo benefícios ambientais, econômicos e sociais para o país.
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