A biomassa é uma excelente fonte de energia e o Brasil gera muitos resíduos da agropecuária. Mas então, por que a fonte ainda é subestimada?
A geração de energia a partir da biomassa tem a capacidade instalada atual de 15.604 MW, representando 9% da matriz elétrica nacional. Com 578 termelétricas, essa fonte fica em quarto lugar, atrás da hídrica, eólica e do gás natural.
Embora o Brasil seja um dos maiores produtores agrícolas do mundo, ou seja, possui vasta disponibilidade de biomassa, essa fonte não é bem explorada. Nos últimos anos, sua participação na matriz energética estagnou e alguns movimentos contrários das políticas energéticas do país têm decepcionado os agentes do setor. Entenda melhor a situação.
Por que a biomassa não é uma fonte de destaque na matriz brasileira?
Para representantes do setor, falta ao planejamento estatal visão integrada entre o setor elétrico e os produtos da cana na matriz de energia — etanol, bioeletricidade e biogás —. Essa integração já funciona bem com o gás natural e deveria ser replicada com a biomassa. Esse descompasso é percebido no Plano Decenal de Expansão de Energia 2030 em que o crescimento do etanol e da cana é bem diferente, 40% e 22% respectivamente.
Além disso, o RenovaBio também é ignorado quando se fala da biomassa. A meta prevê elevação da produção anual de etanol de 35 para 50 bilhões de litros até 2030. Ou seja, esse aumento representa um acréscimo de 200 milhões de toneladas de cana por safra, que pode representar geração elétrica adicional de 7,1 GW.
O RenovaBio também estimula o aumento de produção pelas usinas de biogás e biometano para aumentar a emissão de créditos de carbono, mas isso não é suficiente para que a fonte seja vista como promissora.
A curto prazo, o setor ainda vê alguma esperança de aumento com o risco hidrológico (GSF). É possível que no segundo semestre de 2021 os produtores se sintam estimulados a gerar mais biomassa para liquidar no PDL e os benefícios financeiros devem ser percebidos em 2022.
A longo prazo, a solução sugerida pelo setor para estimular a produção seria para que a garantia física adicional fosse comercializada no mercado livre pelas usinas. Contudo, o Ministério de Minas e Energia (MME) já rejeitou a proposta duas vezes.
As expectativas no PDE 2030
A maior decepção para o setor foram as projeções do PDE 2030, que influencia as políticas de investimento do governo. Para o período, a projeção de crescimento foi de apenas 4% na década, com aumento de 80 MW por ano.
As projeções para a fonte vêm caindo vertiginosamente desde o PDE 2026. Ou seja, o potencial de produção de energia elétrica pela biomassa em geral — bagaço da cana, resíduos de madeira, biogás — para a rede está sendo subestimado.
Essas previsões desconsideram, por exemplo, que em 2020 a biomassa adicionou 304 MW e a previsão da Aneel para 2021 é de 440 MW agregado à capacidade. Outro ponto é que o PDE 2030 não considera a possibilidade de retrofit nas usinas, que hoje funcionam para autoconsumo, mas poderiam exportar para a rede. Além disso, o potencial estimado também não considera o uso da palha da cana que poderia dobrar a potência instalada do setor sucroenergético.
A importância dos investimentos em biomassa
Os investimentos na área trazem benefícios para diversos players do mercado. Segundo estudo realizado em 2018 pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), a geração de energia através de biomassa dedicada evitaria a emissão de 8,3 MtCO2e em 2030. Além disso, entre 2022 e 2030, seriam mitigadas as emissões de 40 MtCO2e, equivalentes a 73% das emissões totais do setor elétrico em 2016.
Esse acréscimo de energia deslocaria 8,2 GW de usinas termelétricas a combustíveis fósseis, abrindo caminho para a maior inserção de fontes renováveis no sistema elétrico. Além disso, o setor poderia atrair até 130 bilhões de reais para a indústria nacional e poderia gerar até 2,3 milhões de empregos diretos ao longo da vida útil dos projetos.
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